Quem não fecha com os irmãos…
Esses dias estava em um intervalo de trabalho e pelo (v)basculhante da cozinha pude ouvir os meus dois filhos mais velhos conversando completamente à vontade. Acredito que imaginavam que não tinha mais ninguém em casa então papeavam livremente sobre escolas, paqueras, ouviam músicas de letras duvidosas e gargalhavam frouxamente.
Fiz questão de me reduzir à minha insignificância na cena (não sem antes catar uma ou outra fofoquinha para aquecer meu coração curioso) e voltei em silêncio ao trabalho.
A amizade dos meus filhos talvez seja uma das minhas maiores tomadas de recarga de energia.
Valeu todas aquelas olheiras, exaustão e desespero, Gabriela do passado, fizemos juntas um grande trabalho 🙏🏽
Não foi nada fácil criar crianças em idades parecidas e ainda mais enfrentando um luto importante do pai deles ainda na infância, mas que belezura ver a parceria dessa meninada. Quando um chega em casa corre para o quarto do outro para gargalhar, fofocar, trocar memes e planos de cebolinha para encontrar o crush perfeito (Ê, adolescência 🤍)
Sempre me preocupei com as relações familiares e a harmonia e parceria entre eles sempre foi fundamental para mim. Sem idealizações também, teve a vez que foram para o jiu-jitsu porque se queriam se bater e que fizessem isso em um tatame com regras! Teve também a crise no inicio, quando a mais velha cismava em apertar, carregar no colo e pôr em risco o pequeno ainda recém-nascido e então veio a traumática-mas-nem-tanto história do ovo cru (um dia quem sabe conto por aqui).
Tiveram as fases de menos proximidade e as fases como agora, quando se tornam uma dupla dinâmica.
O bebê três ainda corre por fora para encontrar seu espaço entre os mais velhos, mas quando está no centro da roda só dá ele.
A minha família de origem também é bastante unida, as datas festivas seguem tendo um espaço de privilégio no calendário e os encontros regulares fazem parte de um cotidiano natural e fluido que muito me agrada.
Quando pensamos em trabalho também não há entre nós algum que, já tendo idade, não tenha trabalhado ou estagiado com meu pai, assim como ele o fez com meu avô.
Como diria Mano Brown, reforçado por Camila Fremder:
Quem não fecha com os irmãos, não fecha com ninguém.
A primeira vez que ouvi a diva repetindo Mano Brown achei engraçado. Depois a ficha foi caindo, e caindo…
Minha avó paterna veio do Piauí, uma cidade que ainda hoje é pequena, precária e rural. Meu avô, seu marido, veio de uma região bastante humilde de Belo Horizonte e todos os dois se uniram na empreitada ManoBrownlesca de trazer um a um os irmãos.
Conforme iam melhorando financeiramente, buscavam mais um para estudar e trabalhar na capital. Veja bem, melhorando quer dizer apenas melhorando mesmo, por vezes viviam um amontoado de gente em um apartamento quarto e sala, tudo pelo desenvolvimento dos irmãos.
O estudo era prioridade, depois a autonomia econômica (que muitos não conseguiram alcançar plenamente e seguiram sendo ajudados), quem vem de baixo, bem baixo mesmo, não sabe crescer sozinho ainda que talvez pudesse ir bem mais longe se a bagagem fosse mais leve.
A questão é que o mundo atual é dos vencedores individuais e ações como essa estão cada dia mais raras. Somos estimylados à vencer, vencer, vencer… e ajudar os irmãos parece um desperdício de tempo, ou pior, um nepotismo criminoso ainda que seja ali, na vida privada.
Os poderosos não se constragem em preparar o filho para presidir a empresa da família, não se intimida em matricular filhos em escolas de rico para que, mais do que aprender as disciplinas, aprendam a fazer networking desde o maternal.
Um dos maiores conhecimentos que pode ser transmitido em um mundo capitalista e a decodificação real do valor de Q.I. qual seja: Quem Indica.
Vejam bem, não estou defendendo rico, até porque isso deve ser algum tipo de crime, mas falando o óbvio. Ninguém chama desconhecido para fazer parceria e grandes negócios são fechados em quadras de tênis ou em viagens de amigos.
A questão é que, para nós que estamos totalmente fora da bolha ricaça é ensinado a competir e desconfiar desde o berço. Seu colega pode conquistar sua vaga se você piscar! Não conte para os outros seus planos ou vai dar zica! Se inscreva primeiro na prova e não divulgue o edital e jamais, veja bem, jamais contrate familiares!
Por sorte venho de uma família que nunca pactuou com esse mandamento, colhemos frutos e dores isso, mas definitivamente não sabemos ser felizes sozinhos.
E é assim que venho buscando esucar meus filhos, se um não está bem, nós também não estamos e vamos precisar nos mexer para encontrar uma saída coletiva.
Lembro quando uma amiga (e competidora) da minha filha perdeu seu vôo para o campeonato. Movemos um mundo e no final pagamos a passagem para que ela pudesse participar, ainda que ela e minha filha também pudessem se cruzar no campeonato. Seria incompleto a equipe estar lá sem ela.
Casos como esse acontecem aos montes na nossa história, não por bondade, mas também por dificuldade em imaginar a ganhar a vida em um pódio solitário.
E é assim que os pequenos se colam, quando um tem prova, o outro cozinha; quando uma tá triste, o outro faz graça. Na infância quando um dava ruim o outro colocava a viola no saco.
Então quando um cresce, puxa o outro. Porque a felicidade mesmo está no pódio solidário!
Que massa!